terça-feira, 21 de setembro de 2010

Capítulo 9

Capítulo 9


          Alice só acordou com sua mãe a chacoalhando insistentemente.
- Acorda minha filha! Você vai perder a hora da escola!
- Só mais cinco minutinhos mãe.
- Já passou mais de dez minutinhos e você está atrasada dona Alice! Faça o favor de se levantar agora!
Alice bufou e levantou do sofá. Dona Angela, mais palida e magra do que nunca, tentou dizer em voz firme. Tentou, pois estava cambaleante. Alice estava com tanto sono que não percebera.
- E posso saber também o porquê da senhorita dormir no sofá?
E então, a realidade dos fatos daquela madrugada caíram sobre Alice como um balde de água fria. Ela tinha de pensar em algo para responder.
- É... Eu... Eu vim beber água e acabei dormindo aqui mãe. Desculpe.
Dona Ângela ia argumentar, mas a menina foi mais rápida e correu para o quarto se trocar e foi para a escola. Deu um forte abraço e um beijo estalado em sua mãe.



           Alice passou o dia inteiro calada em sua carteira, como fazia sempre. Lia e relia a carta de David e também a que ela mesma escrevera para ele. Ela tinha que entregar! Tinha que dar um jeito nisso tudo. Precisava passar um tempo longe dele, para organizar seus pensamentos. Ela entregaria a carta na saída da escola, estava decidida.
         As horas passaram lentamente e ao bater o sinal, anunciando o fim das aulas, Alice andou apressadamente até o portão de saída. A carta estava em suas mãos. Ela apertava a carta, que começara a ficar umidecida devido ao suor da mão da menina.
 Mas ao chegar na saída, seu coração bateu dolorosamente. David não estava no lugar de sempre.
Alice suspirou triste e desceu os degraus, olhando sempre para os lados na esperança de encontrá-lo. Mas de nada adiantou, ele não viera dessa vez. E talvez nunca mais viesse. Alice sentiu uma pontada no peito, apesar de ser isso que ela desejava. Ou pensava que desejava.
Ela passou alguns minutos andando lentamente até, finalmente, chegar à rampa de skate em frente a seu curso de balé.
Como eu não pensei nisso antes?
Alice ficou rodeando o local, mas, infelizmente, não achou David. Suspirou fundo e se sentou no banco.
Um garoto de cabelos ruivos até o ombro, branquelo, de aparelho nos dentes e sardas no rosto se aproximou de Alice.
- Está procurando o Dave?
Alice levantou assustada, olhando o garoto.
- Como sabe?
O estranho garoto ruivo sorriu.
- Eu sou amigo daquele moleque desde criança. Ele vive falando de você, já a vi em fotos.
Ao perceber o embaraço da garota, o garoto estendeu a mão.
- Bom... Eu sou Willian!
- Alice
Ela dera um sorriso amarelo. Não estava muito bem, seu corpo tremia todo.
- Eu sei
Alice estava embaraçada com a situação e começou a ficar vermelha. Mas o garoto esquisito pareceu não perceber.
- Então, ele não apareceu hoje nem ontem. Não sei porque também, aquele moleque deve estar dormindo em casa.
Alice sentiu uma pontada de esperança. E uma idéia louca surgiu em sua mente.
- Sabe onde ele mora?
- Claro! Moro na rua do lado.
A pontada se tranformou em um jato de esperança. Alice sorriu internamente.
- Será que... Bom... Você poderia me levar até lá?
O menino sorriu deixando á mostra seus dentes tortos presos por um aparelho metálico.
- Claro! Porque não?


Alice agradeceu. O menino a mandou esperar um instante e pouco depois, trouxe debaixo dos braços dois skates.
 Tó, peguei emprestado de um chapa. Pode devolver amanhã, se quiser.
Alice hesitou.
- Relaxa Alice. To ligado que o Dave te ensinou. É pra chegarmos mais rapido. Não que seja longe, mais é que to cansadão.
Ele sorriu de novo. Aquele garoto era esquisito, engraçado, mas era simpático também. Alice sorriu e, subindo no skate, o acompanhou.
Eles não andaram muito, chegaram em um lugar da cidadezinha que Alice não conhecia. Era um lugar humilde, se via pelas casas sem pintura com cimento e reboques á mostra.
 Eles foram até um conjunto de casas simples e idênticas, com paredes acimentadas. Logo na primeira, Willian se virou para Alice e com um sorriso enorme falou:
- Está entregue.
- Muito obrigada Willian!
- As ordens. Bom, vo volta pra lá. Não to afim de ficar de vela não. Ah e manda um alo pro Dave, moro? Falou Alice, prazer conhecer você. Até mais, fui.
Os dois riram, Willian subiu em seu skate e voltou para a rampa. Quando ele sumiu da vista de Alice, ela se apressou e pulou o pequenino portão da casa de David.
Ao entrar, Alice correu ate a janela ao lado da porta e espiou. 
Era uma salinha escura, com um sofá bege em frente a uma televisão antiga. Alice andou por volta da casa e se deparou com um corredorzinho que ia até outra janela no fundo. Ela correu ate a janela e tentou enchergar por dentro desta.
Ela viu um pequeno quarto cujas paredes estavam totalmente repletas de pôsteres de bandas. Umas que ela gostava e outras que ela nunca ouvira. Mais em baixo, ao lado do armário com alguns pôsteres e placas de sinalização de trânsito colados nas portas, havia um skate preto, meio acabado, que ela conhecia muito bem. E então, finalmente, do outro lado do armário, ao lado da porta, estava uma cama simples onde se encontrava um garoto adormecido.
Alice sentiu seu coração bater violentamente e respirou fundo tentando se acalmar.
Tentou abrir a janela, que por sorte, estava aberta.
Alice deixou sua mochila no lado de fora com movimentos lentos e entrou cuidadosamente pela janela. Quando estava dentro do quarto de David, uma lágrima teimou em cair dos olhos de Alice que rapidamente a limpou. Ela apanhou o bilhete de seu bolso e se ajoelhou ao lado de David. Colocou o pequeno pedaço de papel cuidadosamente no travesseiro, ao lado da cabeça de David. Alice deu um leve beijo no rosto do garoto e, com mais cuidado, saiu pela janela.
Ao tocar o chão, esquecendo-se completamente de sua mochila, a menina tropeça na mesma, o que a leva a uma queda rápida e precisa. E o que leva um pequeno cãozinho vira-lata a acordar e começar a latir insistentemente para a garota. Com o coração hiper-acelerado do susto e com medo de acordar David  ela correu o mais rápido que pode em direção ao portão e pulou o mesmo em tempo Recorde.
Deixando para trás um cachorro barulhento, uma carta com significados não muito verdadeiros e deixando para trás... o seu eterno garoto skatista.




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