segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Capítulo 4

Capítulo 4

             Alice entrou em casa, bebeu um copo de água gelado e viu que no relógio marcava 21h05min. Muito tarde! Alice se dirigiu á sala e sua mãe estava sentada no sofá com os braços cruzados e assistindo á TV.
Alice pigarreou para chamar a atenção da mãe. Seu corpo tremia, não de frio mas de medo, vergonha e excitação pelo que acontecera a pouco.
- Cheguei mãe.
Dona Angela, ao ouvir a voz da filha, levantou. Suas olheiras denunciavam que ela passara a tarde toda fazendo trufas e espetinhos de chocolate. Mas, apesar da aparência cansada, sua voz era firme.
- Onde que estava Alice?
Dona Ângela mostrava uma expressão furiosa e preocupada.
Alice ainda estava tão entorpecida pelos fatos do dia, por David, que nem notara a fúria na voz de sua mãe.
- Me desculpa mãe. Eu estava com um amigo conversando e nem vi as horas passarem.
Angela não tinha certeza se ouvira direito.
- Um amigo? no masculino? Então.. você estava até essa hora da noite... com um garoto?
Alice ia responder, mas foi cortada por Angela.
- E eu aqui, preocupada. Esperando você pra me ajudar a fazer as trufas. E você se divertindo com um garoto? Um garoto o qual você nunca me falou antes.
- Eu conheci ele hoje mãe...
- Ah, então a senhorita estava na rua com um qualquer até essa hora da noite e nem me avisou?
Alice começou a se irritar com os termos que a mãe usara.
- Ele não é um qualquer!
- Pra ser daqui ou é um qualquer, um vagabundo ou não existe.
Alice começava a ficar vermelha.
- Sabe de uma coisa mãe? A senhora devia estar contente de sua filha ter algum amigo. Alguém da idade dela pra conversar. E fique sabendo também, que ele não é um qualquer. Ele salvou minha vida hoje. Mas você é tão ignorante que nem ao menos pergunta sobre ele, já vai julgando. E outra, se ninguém tem jeito nessa cidade, porque viemos morar aqui? 
- Alice não fale assim comigo! Viemos pra cá porque depois do falecimento do seu pai, não tínhamos condições pra continuar na cidade. Você não vê o esforço que eu faço pra ganhar e guardar dinheiro pra quando você terminar os estudos ir para fora estudar? Você não percebe o que eu faço por você Alice? E e esse desgosto que você me da? Ficando na rua com um moleque que você não deve nem saber da onde vem. O seu pai ficaria muito triste com tudo isso , muito triste.
Ela tinha acertado o ponto fraco de Alice: O pai.
Os olhos da menina se encheram de lágrimas. A voz de Alice ficou mais calma, pega pela emoção.
- Olha mãe. Eu tenho certeza absoluta que o papai estaria feliz por me ver com algum amigo. Não trancada dentro de casa sem tem com quem e nem pra onde sair. Eu amo você mãe, eu estou aqui para te ajudar no que for preciso. Mas vamos deixar uma coisa bem claro: não vamos usar o papai pra resolver nossos problemas. Está me ouvindo mãe? Não quero que você diga o nome do papai pra me atingir outra vez. Me ouviu?
Angela ficou sem saber o que dizer, paralisada, vendo a filha ir para o quarto.
Alice se trancou e, em pranto, se jogou na cama. Debaixo de seu travesseiro a menina pegou uma foto dela e de seu pai em um dia de passeio ao parque. E ali, em sua cama e abraçada a foto, a menina dormiu.


                 O barulho do despertador era ensurdecedor. Era reunião de professores em seu colégio e Alice não teve aula. Ela bateu no objeto barulhento que a acordara poucos segundos atrás e cobriu a cabeça com o edredom. Suspirou fundo e levantou da cama.
Olhou no relógio e eram 6h30min da manhã. Ângela já havia saído de casa e, aproveitando a liberdade, Alice se arrumou e saiu para andar na praça e relembrar de quando saia para andar no parque de onde morava com seu querido pai.
Alice colocou a foto dentro da sua bolsa de mão.
- Vamos passear papai.
E com um sorriso saiu de casa.


- Alice!
Ela se assustou e olhou para os lados procurando de onde vinha a voz masculina que a chamara.
- Ah, oi David.
Seu coração acelerou. Era estranho, ela deveria estar mais calma ao saber que era apenas David e nenhum maníaco do parque. Mas ela não conseguia entender o porquê sempre que via David seu coração batia daquele jeito. Talvez ela até soubesse, mais era muito cedo para ter certeza de algo. Eles só se viram duas vezes. Eles não se conheciam. Como ela podia ter certeza de algo?
- Está tudo bem Alice?
Alice notou que estava encarando David enquanto mantinha sua tagarelice mental e seu rosto esquentou.
- Oh, sim... Eu estou ótima. E você?
- Muito ótimo.
Alice se pegou encarando-o novamente. E então ele deu aquele sorriso novamente. Aquele sorriso Seguido de um leve tapinha na testa.
- Tem alguém ai dentro? Hei..
Ele falava como se já a conhecesse a tempos. E era isso que o deixava encantador. Esse negócio de não ter timidez.
- É... Eu acho que não acordei direito ainda.
Alice riu nervosamente, olhando para baixo.
- Entendi... - Disse David olhando no relógio - Não foi para a escola hoje?
- Não, tem reunião de professores e nem tive aula.
- Ah sim. Tenho saudades da minha época de escola.
- Você já terminou os estudos?
- Não... É que eu cansei mesmo. Fiz o segundo ano e parei, mas às vezes eu tenho saudade do colégio.
Alice acenou com a cabeça. Imagine se minha mãe descobre que meu único amigo largou os estudos pra ficar a toa na rua?
- Entendi...
Alice falou, desviando o olhar. David percebeu o embaraço.
- É... Mas eu toco guitarra! Estou pensando em fazer uma faculdade de música, montar uma banda. Quem sabe?
- Ah, legal. Eu gosto de música.
David sorriu.
- falando em música. Acho que estou te devendo um Ipod.
Alice sorriu, um sorriso encantador.
- Ah, que isso. Fica tranquilo.
Houve um silencio de alguns segundos. Até David o quebrar com uma voz entusiasmada.
- Anda de skate?
- Eu? Não... Nunca encostei em um.
- Só no dia em que eu te atropelei certo?
- Ah sim... Só naquele dia.
Ambos riram.
- Quer ter aulas?
- Aulas de que?
- De skate oras! Vem aqui.
David pegou na mão de Alice e a estava puxando para a rampa, quando a menina hesitou.
- Não. Não tenho tempo. Tenho que vender trufas e... Ainda tenho aulas de balé hoje.
David não aceitou as desculpas. E continuou a puxá-la.
- Venha comigo garota bailarina, hoje começa sua primeira aula de skate!
- Alice, por favor.
- Não gosta de “garota bailarina”?
- Odeio balé.
- E faz o curso?
- É mais pela minha mãe. Por que se fosse por mim mesmo... Nem faria.
- Entendo.
David sorriu.
- Agora chega de conversas e se concentre na aula, Alice.
Ela ia protestar. Não tinha coordenação para isso, era desastrada! Mas ao simples toque da mão de David na sua, fez com que Alice ficasse totalmente sem palavras e acabasse cedendo.
           David e Alice ficaram o dia inteiro andando, ou tentando andar, de skate. Ela até que estava sendo uma boa aluna, mas era só se distrair um pouquinho que Alice se espatifava no chão, cortando o joelho aqui, ralando o cotovelo ali... E lá se foi uma caixa inteirinha de bandaid junto com as horas, outra vez.

 Fim do capítulo 4

Nenhum comentário: